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04 janeiro, 2010

A metamorfose de Baleia

Tinha acabado de abocanhar uma barata que falhou em passar correndo pela cozinha. Enfiou seus dentes afiados na casca grossa conseguindo furá-la. Que gosto horrível!, mas era a coisa mais parecida com comida que via em dias. Mastigou penosamente aquela amargura crocante e engoliu de uma vez. O pobre estômago reclamou um pouco já que se acostumara a ser preenchido pelo vento. Deitou a cabeça nas patas dianteiras e tentou dormir um pouco, mas um barulho no estômago não permitia. De barulho passou a uma sensação estranha, que logo tornou-se uma dor nunca antes sentida pela pobre criatura. Fechou os olhos e a dor misturou-se com uma tontura nauseante enquanto, ainda com os olhos fechados, via uma explosão de luzes, cores, um som ensurdecedor e, de repente, silêncio. Alguma coisa muito estranha havia acontecido. Sentia-se muito maior do que o habitual, o olfato e a visão tornaram-se aterradoramente inusitados. Sentia falta do rabo e os pêlos estavam escassos, finos. Levou as mãos (ou seriam as patas?) à lateral do corpo onde alguma coisa fazia um volume incômodo. Colocou a mão num dos bolsos (onde estava o volume)e tirou uma carteira. Abriu-a e tirou o documento de alguém chamado: Gregor Samsa. Não estava entendendo o que aquilo significava. Será que Fabiano esperava por ele fora daquele quarto?

Leituras:
A metamorfose, Franz Kafka
Vidas secas, Graciliano Ramos

1 comentários:

Cecilia Nery disse...

Que legal, Lívia! Ficou bacana essa "brincadeira" com dois dos personagens mais fascinantes da literatura. Muito bom mesmo. Adorei. Bjs.

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