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12 dezembro, 2010

O homem que foi embora para Pasárgada




Algum raio solar apareceu de repente e ofuscou minha visão por uns momentos. Fechei os olhos. “Que delícia será quando chegar lá!”Pensei ainda de olhos fechados. “Muita gente está a minha espera. Já imagino o bafafá, as senhoras ansiosas, as crianças exultantes, os marmanjos curiosos porém comedidos. Ah! Parece até que o rei vai chegar!” Sorri docemente com esse pensamento. 
É certo que fazia muitos anos que não aparecia na cidade, que não dava notícia nenhuma, por isso mesmo devia ter me transformado numa espécie de mito, alguém encoberto de mistérios e fantasiado de boatos. "O que será que pensam de mim? Que sou um sujeito que foi embora e fez a vida na cidade grande? Ou um matuto qualquer que acabou preso, 12 horas por dia, numa fábrica fumacenta? Ou ainda um cafetão, um malandro ou um alcoólatra? Não importa o que pensem, quero chegar lá e sentir a brisa suave, o canto dos pássaros, a vida morna, o tempo quase inerte. Não posso deixar de pensar também nas regalias que terei, na atenção que receberei, nos presentes diligentemente comprados e guardados até minha chegada. Sem falar nas jovens senhoras que aguardam pacientemente um bom casamento, e que verão em minha figura a possibilidade de tal realização. Ah! Realmente é o rei que chega!
Abri os olhos ao ouvir a voz aveludada que saía pelos auto-falantes: “Próximo ônibus  com destino à Pasárgada, portão 13, 15 horas”.
“Ah, Pasárgada, terra da minha infância, perdida nos confins desse Brasil...” Peguei minha modesta mala e subi naquele ônibus rumo ao paraíso.

Leituras:
70 historinhas - Carlos Drummond de Andrade
Itinerário de Pasárgada - Manuel Bandeira

1 comentários:

Doney disse...

Bem, como gtsas de ler, divido aqui contigo meu blog, com opiniões e trechos selecionados das obras que li. Acho que é bem interessante para quem aprecia a literatura:
http://listadelivros-doney.blogspot.com
É isto, forte abraço.

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