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05 maio, 2010

"Tudo o que é sólido desmancha na arte"


Eram aqueles répteis com os quais havia sonhado a noite passada. Estavam ali, reais como a própria natureza, alcançados por todos os meus sentidos: concretos, palpáveis, visíveis. Segui três deles que andavam em fila indiana, aparentemente dirigiam-se ao local de onde tinham saído. Eles andavam lentamente. Depois de acompanhá-los com os olhos, já mortalmente cansados, segui-os até o canto da estante onde havia um papel caído. Me abaixei para ver o que tinha na folha: era um desenho de vários répteis, muito parecidos com aqueles que estavam ali, no chão do meu apartamento, mas estavam todos interligados, no espaço entre a pata e o corpo de um tinha a pata do outro. Era um desenho geometricamente pensado.
No entanto, o que realmente me intrigou foi o fato de que aqueles três répteis pararam perto da folha de papel e ficaram ali por alguns minutos, como se estivessem esperando alguma coisa.
Logo me pareceu inquestionável que eles estivessem esperando que eu me retirasse para que realizassem sua grande revolução. Com a curiosidade excitada decidi me esconder para ver o que eles fariam com aquela folha. Fui para trás de uma poltrona estrategicamente colocada, tinha uma boa visão do todo daquela cena estranhíssima. De repente tornou-se inacreditável quando aqueles pequenos seres entraram na folha transformando-se rapidamente em desenho, ao mesmo tempo em que outros, de meros desenhos, tornavam-se pequenos corpinhos em 3D, verdes e reais, saindo da folha de papel.

Hoje reconheço que esta peça ficcional foi apenas um lampejo da imaginação de alguém que não podia tirar os répteis de Escher do pensamento, e por isso, teve a necessidade de me escrever nesse vasto mundo ficcional.
P. F.
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